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Michele Loureiro
Por que o Brasil mantém uma das maiores taxas de juros reais do mundo, mesmo com a inflação em queda e países vizinhos já cortando os juros? O que está por trás da cautela do Banco Central — e o que pode finalmente destravar uma trajetória de redução da Selic? Essas respostas passam pelo equilíbrio entre credibilidade fiscal, expectativas de inflação e estabilidade cambial, temas que a economista-chefe Cristiane Quartaroli, do Ouribank, detalha nesta entrevista exclusiva.
Na conversa, ela explica os fatores que mantêm o país em compasso de espera e dá dicas sobre o que devemos observar nos próximos meses para entender os rumos da política monetária. “Não basta reduzir juros de forma isolada. É preciso reforçar a credibilidade fiscal e a eficiência do gasto público para que o Banco Central tenha segurança em flexibilizar a política monetária”, afirma.
Ao longo da entrevista, ela resume os principais pontos e analisa a combinação entre inflação, câmbio e política fiscal, os impactos de um ano eleitoral e os setores mais expostos ao atual ciclo de juros altos. Confira a seguir:
O primeiro fator é o nosso histórico de inflação persistente. O Brasil conviveu por anos com choques inflacionários e um processo de inércia ainda elevado, o que leva o Banco Central a adotar uma postura mais cautelosa para garantir que a inflação convirja para a meta. Não vejo exagero nessa estratégia. Após um período longo de instabilidade de preços, a autoridade monetária prefere manter juros altos até que o cenário esteja consolidado.
Outro ponto importante é o risco fiscal. O Banco Central considera esse fator em seu balanço de riscos, especialmente porque um aumento de gastos públicos tende a gerar pressões inflacionárias futuras. Além disso, o ambiente externo ainda é incerto e pode trazer volatilidade aos ativos brasileiros, impactando o câmbio e, por consequência, os preços domésticos. Tudo isso explica a postura prudente da instituição neste momento.
Essa é uma questão complexa, pois não depende apenas da política monetária. Para equilibrar a política de juros sem travar o crédito, é fundamental recompor a credibilidade fiscal e melhorar a eficiência do gasto público. Com um cenário fiscal mais estável, o Banco Central ganha espaço para reduzir os juros de forma consistente e previsível, estimulando o crédito e o investimento produtivo de maneira sustentável.
As principais variáveis a serem monitoradas são as expectativas de inflação, o comportamento do câmbio e as contas públicas.
Hoje, as projeções de inflação estão cedendo, mas ainda acima da metade 3%, mesmo com a banda de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
O câmbio também merece atenção, pois influencia diretamente os preços. A recente valorização do real contribuiu para a desaceleração dos produtos industrializados, mas uma reversão desse movimento pode reacender pressões inflacionárias. Por fim, o resultado das contas fiscais será determinante: um aumento de gastos do governo tende a elevar a inflação futura, restringindo o espaço para cortes de juros.
O principal risco em um ano eleitoral é o afrouxamento da política fiscal. O aumento do gasto público por motivações eleitorais eleva as expectativas de inflação e pode adiar o início de um ciclo de flexibilização monetária. Esse tipo de incerteza política costuma gerar volatilidade nos mercados, fazendo com que investidores adotem uma postura mais cautelosa até que o quadro fiscal e político esteja mais claro.
Em um ambiente de juros elevados, os setores mais sensíveis ao crédito, como consumo e construção civil, tendem a sentir os efeitos de forma mais intensa, em razão do aumento do custo de financiamento. Por outro lado, segmentos ligados à renda fixa, fundos imobiliários e títulos públicos se beneficiam de retornos mais atrativos. Para investidores e empresas, é importante acompanhar o início de uma eventual inflexão na curva de juros, ajustando as estratégias para aproveitar as oportunidades que surgirem nesse novo ciclo.
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