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Michele Loureiro
Conclusão das negociações entre os blocos pode aquecer comércio exterior e impactar na taxa de câmbio no médio prazo
Após oito anos e 14 rodadas, o Mercosul e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA) – integrada por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein - anunciaram a conclusão das negociações para a criação de um Acordo de Livre Comércio entre as duas regiões. A nova oportunidade comercial pode beneficiar o Brasil e os efeitos na balança comercial e no câmbio devem ser observados ao longo dos próximos anos.
O anúncio foi feito durante a 66ª Cúpula do Mercosul, realizada na Argentina no início de julho. O Acordo Mercosul-EFTA compreende um mercado de aproximadamente 300 milhões de consumidores e um PIB de cerca de US$ 4,4 trilhões.
Com o acordo com a União Europeia e a EFTA, o Mercosul passará a ter acesso preferencial aos principais mercados do continente europeu. Além disso, considerando o contexto internacional de guerra tarifária e tensão com os Estados Unidos, além do crescente protecionismo e questões geopolíticas, o acordo representa uma sinalização relevante para o crescimento econômico.
Importante ressaltar que a conclusão das negociações não produz efeitos jurídicos imediatos, que ocorrem apenas com a assinatura e entrada em vigor do acordo, o que deve acontecer nos próximos meses de 2025.
Segundo Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, a conclusão do acordo tende a fortalecer os laços econômicos entre os blocos e pode ampliar o acesso a mercados de poder aquisitivo mais alto, além de incentivar investimentos. “Para o Brasil isso pode significar um aumento das exportações de produtos industriais e manufaturados, além de impulsionar setores específicos como farmacêutico e automotivo, por exemplo”.
No médio prazo essa integração pode contribuir para ganhos de produtividade e diversificação da pauta exportadora brasileira, uma vez que o acordo tende a eliminar ou reduzir tarifas sobre uma grande gama de produtos. “Devemos ver regras mais modernas sobre comércio de serviços e compras governamentais, eliminando algumas barreiras técnicas. Tudo isso tende a reduzir custos, pode dar mais previsibilidade e melhorar a competitividade das nossas exportações”, diz a economista.
O estreitamento do relacionamento com os países que têm padrões regulatórios mais elevados, como os países da Europa, também tende a impulsionar melhorias institucionais e regulatórias no Mercosul.
Para se preparar para o novo cenário, as empresas podem mapear oportunidades de exportação e importação com os países do EFTA, revisando suas cadeias de suprimento e adaptando seus processos às normas técnicas e sanitárias europeias, que é uma questão bastante importante. Cristiane também recomenda que as empresas busquem as certificações internacionais que são necessárias, além de fortalecer estratégias de internacionalização, aproveitando esse tempo até a ratificação para ajustar produtos, processos e estratégias comerciais.
O acordo compreende as seguintes disciplinas comerciais: bens, regras de origem, facilitação de comércio, barreiras técnicas ao comércio, medidas sanitárias e fitossanitárias, medidas de salvaguardas bilaterais, serviços, investimentos, compras governamentais, propriedade intelectual, concorrência, comércio e desenvolvimento sustentável e solução de controvérsias.
Para se ter uma ideia da relevância da oportunidade, em 2024 o Brasil exportou US$ 3,09 bilhões para a EFTA e importou US$ 4,05 bilhões. O EFTA está entre os vinte maiores parceiros comerciais de serviços do Brasil (19ª maior corrente de comércio) e o fluxo comercial com a região é superior ao de países como Indonésia, Reino Unido, Arábia Saudita, Tailândia, Malásia e Bélgica.
Para Cristiane, o impacto no câmbio deve ser limitado no curto prazo, dado que o acordo ainda precisa ser ratificado e implementado. “No médio e longo prazo, como há uma perspectiva de maior entrada de investimento, é possível que haja valorização da moeda com a maior entrada de investimentos e crescimento das exportações”, diz.
Para isso, contudo, é necessário que haja um ambiente fiscal e político mais estável e favorável. “O câmbio vai depender das outras variáveis internas do país e é difícil prever o que pode acontecer”, diz a economista.
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