Relátórios de economia
15/12/2022

Relatório Especial - Cenário econômico em 2023: bola para frente

Por

Fernanda Consorte

Cristiane Quartaroli

2022 está chegando ao fim e, se por um lado parece que passou muito rápido, por outro, demorou demais, afinal, foram tantos acontecimentos ao longo deste ano que não caberia em um único relatório. Mal saímos da pandemia e a guerra entre Rússia e Ucrânia já começou causando uma desordem geopolítica mundial. Na sequência, o Brasil entrou em uma corrida eleitoral extremamente polarizada; depois foram as eleições propriamente ditas, Copa do Mundo, eliminação do Brasil, transição para o novo governo... ufa! Mas, levando em consideração todo esse mundaréu de informações (e mais algumas outras coisinhas que ainda devem respingar por aí), será que conseguimos ter um direcionamento sobre o que esperar para 2023? Uma tarefa árdua! Sempre falamos aqui que fazer projeção é algo difícil e ingrato, mas somos brasileiras e não desistimos nunca (a Copa de 2026 tá logo aí!), então vamos explorar um pouco algumas das principais variáveis para tentar entender para onde estamos indo a partir de agora.

Comecemos pelo cenário político, já que política e economia andam de mão dadas! Como mencionamos em nosso relatório anterior, embora uma parcela da incerteza tenha reduzido com o término das eleições, não esperamos um céu de brigadeiro. Há ainda muitas incertezas sobre como será a condução econômica do novo governo - embora alguns nomes para as grandes pastas já tenham sido definidos; e isso pode continuar trazendo volatilidade aos principais ativos, sobretudo para a taxa de câmbio. Além disso, o aumento dos gastos já contratados para 2023 e 2024, e o sugerido perfil expansionista do próximo governo acenderam uma luz amarela para o comportamento futuro da inflação, já que períodos de expansão fiscal tendem a provocar aumento na inflação (ver gráfico). O próprio Banco Central mencionou em sua última Ata do Copom que esse é um dos principais riscos para o cenário prospectivo da inflação.

Com isso, as projeções de inflação para 2023 e 2024 voltaram a subir no relatório Focus do Banco Central, mercado projeta hoje IPCA de 5,08%para o final do próximo ano e de 3,50% para o final de 2024 (no início deste ano essas projeções estava em 3,38% e 3,00%, respectivamente). É fato que o IPCA mostrou um recuo importante neste ano, após a forte pressão que vimos ao longo da pandemia. O índice passou de um valor acumulado de 9,26% entre janeiro e novembro de 2021 para 5,13% no mesmo período deste ano (ver gráfico).

Parte dessa desaceleração está ligada à alta dos juros; parte é reflexo da queda da taxa de câmbio (o real teve uma valorização média de quase 5,0% ao longo deste ano, comparado ao mesmo período do ano passado); e uma outra parcela à redução de alguns impostos. Contudo, ainda assim, estamos falando de uma expectativa de inflação de 5,80% para o final de 2022, que é um patamar elevado e bastante acima da meta estabelecida pelo Banco Central (3,50%). Ou seja, há ainda um longo caminho a ser percorrido para atingirmos a meta, e essa é justamente a preocupação, já que o impulso fiscal contratado para 2023 e 2024 e que comentamos no parágrafo anterior, tende a ter um efeito altista na inflação. Assim, acreditamos que o Banco Central mantenha a Selic alta(nos 13,75%) por um período prolongado. Por exemplo, as projeções sinalizam que o Banco Central terá espaço (se tanto) para começar reduzir os juros apenas a partir do segundo semestre de 2023. Para 2024 é possível que o Banco Central tenha uma menor janela de oportunidade para baixar os juros, já que inflação deverá ficar mais pressionada a depender do impulso fiscal que será dado ao longo dos próximos 2 anos. Tendemos a concordar com essa visão.

Juros mais altos por um período mais longo devem prejudicar o ritmo de crescimento da nossa economia, que tanto nos surpreendeu ao longo de 2022. Terminaremos o ano com crescimento do PIB próximo de 3,0%, quando lá no início do ano as projeções eram de um PIB abaixo de 2,0%. De falto alguns setores da nossa economia surpreenderam positivamente, como foi o caso dos setores de serviço e comércio. Contudo a indústria segue se arrastando e não há sinais de que teremos fortes investimentos em infraestrutura que possibilitem um crescimento mais robusto. Além disso, os indicadores de confiança voltaram a ceder mais recentemente, com destaque para o indicador de confiança do empresariado (ver gráfico). Empresário pouco confiante no futuro da economia investe menos, contrata menos e a reação em cadeia todos sabem qual é: o país cresce menos. Por conta disso, a expectativa do mercado é de que o PIB de 2023 não chegue a 1,0% e fique próximo disso em 2024.

Por fim, não podemos deixar de mencionar o cenário externo. Os desdobramentos da guerra no Leste Europeu com sanções e aumento nos preços das commodities causaram pressão na inflação das economias centrais. Com isso, países da Zona do Euro e EUA, que não tinham inflação alta há décadas, voltaram a conviver com esse cenário. O resultado foi o aumento de juros generalizado e, com isso, o risco de recessão global entrou no radar. Hoje, ainda não há uma luz no fim do túnel sobre esse tema, já que a guerra não terminou. Então, a necessidade de aumento nos juros por parte dos banco centrais deve continuar, ainda que em menor intensidade. Se somarmos a isso a desaceleração da economia chinesa por conta da política Covid-zero adotada no país ao longo deste ano temos um quadro de baixo crescimento global, que impacta diretamente as economias emergentes -- e o Brasil, principalmente, já que temos a China e os EUA como nossos principais parceiros comerciais.

Considerando todas essas variáveis citadas acima, está difícil de visualizar um cenário mais ameno para nossa taxa de câmbio. As incertezas do cenário externo somadas ao quadro interno devem manter o nível de risco elevado por aqui. O mercado tem uma estimativa de que o câmbio irá permanecer próximo dos US$/R$5,25 até o final do próximo ano. Em nossa visão, temos uma vantagem comparativa, que é nosso diferencial de juros (ver gráfico). Com o Banco Central mantendo a Selic elevada por mais tempo, nossa taxa de juros continuará sendo uma das mais atrativas do mercado, favorecendo o ingresso de capital estrangeiro, permitindo de certa forma algum alívio no câmbio ao longo do próximo ano, apesar de todos os demais riscos envolvidos. Mas, ainda assim, estamos falando de um nível elevado.

Veja, no quadro abaixo, a mediana das projeções do mercado para as variáveis comentadas neste relatório e qual tendência acreditamos que cada uma delas deve seguir.

Agora é bola para frente e vida que segue. Embora o Brasil tenha sido eliminado da Copa de2022 (precocemente, em nossa visão), alguma lição aprendemos e vamos ter mais quatro anos para pensar em novas estratégias, técnicas e nos prepararmos para alcançarmos o tão sonhado hexa em 2026. Com a economia não será diferente. O novo governo terá quatro anos para colocar ordem na casa. Sabemos que é uma tarefa árdua e que não depende somente do Brasil. Somos um país emergente, lembram? Então, a evolução do cenário externo terá um impacto importante sobre o comportamento futuro da nossa economia. E, como vimos, as projeções econômicas para 2023 não são das melhores, mas deixamos aqui nossos votos deque algumas boas surpresas aconteçam (como aconteceram em 2022 – vide parágrafo sobre crescimento econômico). E quem sabe possamos comemorar alguns erros de projeções no final de 2023!

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