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7/8/25

‘Tarifaço’ de Trump: como ficam os preços e índices da economia brasileira?

Por

Michele Loureiro

Depois de semanas de apreensão, a tarifa de 50% imposta pelo governo dos Estados Unidos aos produtos brasileiros entrou em vigor no início de agosto. A medida, assinada por Donald Trump, soma a tarifa recíproca de 10% a uma sobretaxa específica de 40%, aplicável a cerca de 35% das exportações do Brasil para os EUA e promete abalar a economia nacional.

 

O ‘tarifaço’ é uma tentativa admitida do presidente americano de interferir no Judiciário brasileiro. A Casa Branca justificou a ação como resposta a “violações à liberdade de expressão” e “perseguição política” no país, em referência ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo STF. Trump vinculou diretamente a elevação ao que chama de “caça às bruxas” contra seu aliado.

 

Enquanto as questões políticas seguem em andamento, com posicionamentos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterando a soberania brasileira, a economia já registra as consequências da taxação.

 

Segundo Cristiane Quartaroli, economista do Ouribank, ainda é esperada uma negociação entre os dois países, mas neste momento o aumento das tarifas tende a gerar uma redução nas exportações brasileiras. “Isso pode acabar impactando no rendimento de diversos setores e no nível de emprego”, diz. Com menos pessoas recebendo salários, a tendência natural é que haja queda de consumo. “Em algum momento, a gente pode ver uma redução do crescimento econômico. Muitos impactos não são imediatos, mas podem acontecer no decorrer dos meses, no médio e no longo prazo”, completa.

 

Moeda de dois lados

 

Ao mesmo tempo que os empresários brasileiros buscam alternativas para lidar com o tarifaço, os americanos também se preocupam com os preços de produtos importados daqui. Um levantamento feito pelo Google mostrou que houve alta na procura por valores de itens com origem brasileira, como carne e café. “Nós vamos perder, mas os americanos também podem sofrer bastante, inclusive com o impacto em valores de alimentos que eles também não produzem”, diz a economista.

 

O preço do contrato futuro do café segue em alta nas últimas semanas, ao passo que o valor das carnes nos Estados Unidos já aumentou 7% neste ano. “O consumidor americano já está sentindo no bolso os efeitos dessas tarifas que estão sendo implementadas pelo governo local”, diz Cristiane.

 

Para ela, essa percepção dos americanos sobreas tarifas pode ser um argumento de negociação entre os governos, mas é importante ressaltar que o mercado está se remodelando para lidar com o retrato atual. “Quando a gente fala de economia, nunca se pode dizer que algo vai ser permanente. A economia é cíclica, mas neste momento devemos lidar com esse cenário”.

 

Impacto no preço dos alimentos

 

A economista avalia que pode haver impacto no mercado local e redução nos preços de alguns alimentos, como  carnes e café. Com o Brasil exportando menos para os Estados Unidos, os produtores podem procurar novos mercados para fazer esses produtos saírem do país ou vender mais barato aqui no Brasil. “Contanto, esse efeito não deve ser prolongado, uma vez que os empresários estão procurando novos mercados e pode haver alteração nas tarifas novamente”, diz.

 

Os produtores de diversos setores e empresários que têm grande parte da receita com exportações têm se mostrado preocupados com as tarifas vigentes. A confiança do empresário industrial no Brasil está em baixa, com o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) atingindo o menor nível desde junho de 2020, registrado durante a pandemia. “Havia uma melhora suave nesses indicadores e agora com a implementação das tarifas o índice voltou a cair. Quando um investidor ou empresário está pouco confiante, ele não investe e não contrata. Isso acaba afetando a economia do país ao atingir o trabalhador, o consumidor e a população de forma geral”, afirma Cristiane.

 

Indicadores do mercado financeiro

 

A economista explica que o mercado financeiro reage às expectativas e a oscilação dos índices é uma consequência das incertezas. “Assim que as tarifas foram anunciadas, vimos uma acomodação do dólar, mas tudo muda muito rápido. Nos últimos dias também está na pauta a possibilidade da redução de juros nos Estados Unidos, o que acabaria favorecendo as moedas emergentes. Esse cenário de incerteza traz volatilidade para o mercado financeiro”, diz.

 

A falta de previsibilidade também é uma das preocupações do Banco Central, que afirmou em comunicado recente que não sabe quais serão os efeitos das tarifas na economia brasileira e, por conta disso, a taxa de juros deve permanecer no patamar dos 15% por um bom período. “A inflação permanece acima da meta para o final deste ano e o câmbio também segue bastante pressionado. A última divulgação da balança comercial veio em linha com o esperado, mas com uma projeção de que os próximos resultados já venham mais impactados por conta da questão das tarifas”, diz a economista.

 

 

Os principais pontos do ‘tarifaço’

 

●       O Brasil está, ao menos por enquanto, no topo da lista de países com a maior tarifa imposta pelos Estados Unidos. A taxa  supera, por exemplo, os índices impostos em países como Síria (41%), Laos e Mianmar (40%), Suíça (39%), Canadá (35%), e também as alíquotas provisórias de China (30%) e México (25%), que seguem em negociações com os EUA e tiveram a entrada em vigor adiada.

 

●       Uma lista de 694 produtos brasileiros que estão fora da taxação deve amenizar os efeitos imediatos sobre o PIB. O governo brasileiro aposta em negociações setoriais para mitigar ainda mais os impactos.

 

●       O governo prepara um pacote de socorro aos setores mais afetados. Os detalhes ainda não foram revelados, mas o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que as medidas incluem crédito para empresas e aumento de compras governamentais. Além disso, alguns estados, como Goiás e São Paulo, preparam suas próprias linhas de financiamento alternativas para ajudar empresas.

 

●       O Brasil aprovou consulta formal à Organização Mundial do Comércio (OMC) para tratar da questão. O chanceler Mauro Vieira diz que a medida “representa a defesa do direito soberano do Brasil de definir o seu próprio destino”, mas reconhece que o sistema de solução de disputas está paralisado.

 

●       Há um novo ponto de atenção no horizonte: Trump fez uma ameaça de taxar “próximo de 100%” os países que compram da Rússia– grupo em que o Brasil se destaca.

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