
Por
Michele Loureiro
A partir de 1º de janeiro de 2026, entra em vigor a nova tributação que passa a cobrar 10% sobre lucros e dividendos enviados ao exterior quando o acionista recebe mais de R$ 50 mil mensais de uma mesma empresa. A regra, criada para compensar a isenção de Imposto de Renda para brasileiros que recebem até R$ 5 mil mensais, transforma o ambiente de distribuição internacional ao encerrar um ciclo de isenção que durou quase três décadas. Nesse novo cenário, a antecipação de dividendos em 2025 aparece como estratégia para proteger margens e planejar 2026 com previsibilidade tributária e cambial.
O impacto da mudança não é pequeno. Em 2024, as remessas de lucros e dividendos ao exterior somaram US$ 37,4 bilhões, segundo o Banco Central — alta de 18% em relação ao ano anterior. Trata-se de um fluxo robusto que abrange multinacionais, holdings internacionalizadas e empresas brasileiras com acionistas estrangeiros. Para todas elas, a incidência ocorrerá no momento da remessa, independentemente do setor ou tamanho da operação, afetando especialmente negócios com margens comprimidas ou políticas recorrentes de distribuição.
Segundo Saulo Carvalho, superintendente comercial do Ouribank, essa nova dinâmica exige reorganização imediata. Com a tributação entrando em vigor em poucas semanas, a janela para remessas livres de imposto se encerra em 31 de dezembro de 2025. “Antecipar dividendos agora não é apenas uma questão fiscal: é uma decisão estratégica para proteger margens, neutralizar riscos e manter previsibilidade no planejamento do próximo ano”, afirma. Ele destaca que a antecipação ganhou ainda mais relevância diante do cenário de volatilidade internacional e do ambiente de juros elevados — o custo médio do crédito corporativo ultrapassa 20% ao ano em operações tradicionais, segundo estimativas de mercado.
O mecanismo da antecipação reúne pilares que explicam sua adoção crescente. O primeiro é fiscal e garante as remessas até o fim de 2025. O segundo é cambial, já que ao realizar operações ainda em 2025, reduz-se a exposição às oscilações que marcaram o real nos últimos meses. O terceiro pilar é financeiro: com linhas estruturadas, a antecipação permite distribuir dividendos sem descapitalizar o caixa operacional ou elevar o endividamento formal da empresa. “A antecipação via crédito estruturado preserva a liquidez e evita que o negócio comprometa seu capital de giro”, explica Carvalho.
A combinação de incertezas fiscais, juros elevados e maior escrutínio sobre operações de câmbio trouxe uma onda de reorganização entre empresas com atuação internacional. Levantamentos de consultorias apontam que mais de 40% das multinacionais brasileiras já iniciaram revisões de suas políticas de distribuição para acomodar a nova regra.
Nesse contexto, instituições especializadas em câmbio corporativo e crédito estruturado passam a desempenhar um papel determinante. No Ouribank, a abordagem inclui planejamento de caixa e gestão de risco cambial numa mesma perspectiva consultiva. A atuação envolve condições competitivas para fechamentos cambiais, apoio técnico para remessas internacionais e linhas de crédito estruturadas que permitem antecipar dividendos dentro do período de isenção. “Não se trata apenas de executar a remessa. É alinhar o movimento ao ritmo financeiro da empresa, ao seu ciclo de caixa e à sua política de distribuição, garantindo eficiência e segurança”, afirma o executivo.
Clientes que já iniciaram a reorganização tributária têm revisado políticas internas, acelerado repasses e sincronizado decisões de 2025 com as expectativas dos acionistas internacionais. Em muitos casos, a antecipação também compensa oscilações previstas na receita, permitindo que as empresas evitem remessas em momentos menos favoráveis do câmbio ou da conjuntura fiscal.
O impacto mais amplo da nova tributação indica que, a partir do próximo ano, os fluxos de dividendos serão mais planejados, espaçados e alinhados a novas estratégias de governança. Empresas que realizarem a antecipação ainda em 2025 ganharão margem para redesenhar metas, ajustar políticas de distribuição e recalibrar expectativas com parceiros estrangeiros.
No fim, a mudança reforça que remeter dividendos ao exterior deixou de ser uma rotina operacional para se tornar uma decisão estratégica. Para empresas que buscam previsibilidade, a antecipação aparece como o caminho mais racional. “A mudança tributária redefine as regras do jogo. Quem se organiza antes entra em 2026 com vantagens claras que incluem menos imposto, menos risco e mais controle sobre seus resultados”, diz o executivo.
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