Por
Michele Loureiro
Nos últimos anos você já deve ter ouvido falar sobre o Brexit muitas vezes. A abreviação para "British exit" ("saída britânica", na tradução literal para o português), que nomeia a decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia (UE) é um assunto constante e ganha novos capítulos o tempo todo. Mas afinal, o que um processo lá do outro lado do mundo pode acarretar na economia global -- e no sistema financeiro do Brasil?
Para responder a esta pergunta precisamos entender a relevância da União Europeia. O grupo é formado por 28 países europeus que praticam livre comércio entre si, além de facilitar a movimentação da população para trabalhar e morar em qualquer parte do território. Para se ter uma ideia, o bloco responde por cerca de 15% da riqueza do mundo, atrás apenas de Estados Unidos e China.
Depois que um plebiscito em 2016 mostrou que a maior parte da população (52%) era favorável à saída do Reino Unido do bloco, inúmeras fases de negociação aconteceram e o veredito deve acontecer em menos de dois meses. O problema é que não há acordo em muitas questões e a saída pode ser traumática.
Ao deixar a UE o Reino Unido terá que negociar novas condições para o comércio com as demais 27 nações e também com outros 52 países com os quais o bloco tem acordos preferenciais -- isso pode acarretar em uma queda de 8% do PIB do país nos primeiros anos, de acordo com previsões do Banco da Inglaterra. Entretanto, o argumento dos analistas a favor do Brexit é de que a economia pode ficar mais forte se o país tiver controle sobre sua política comercial.
Para o restante do mundo, a saída do Reino Unido pode mudar bastante coisa. “O Brexit adiciona incerteza em uma cenário global que já está incerto”, diz Fernanda Consorte, economista-chefe e estrategista de câmbio do Ouribank.
Ela explica que a economia mundial passa por um período de baixo crescimento. Além da guerra comercial entre China e Estados Unidos, os países europeus também registram um momento difícil. Recentemente, o Banco Europeu divulgou um pacote de estímulos na tentativa de aquecer a economia, portanto o Brexit se mostra como uma turbulência em um cenário pouco otimista.
Apesar de o Reino Unido não ter aderido ao Euro - moeda única hoje usada por 19 países - a estimativa é que libra pode cair até 20% com o Brexit, o que pressionaria a inflação e exigiria ações do Banco da Inglaterra (banco central inglês).
Segundo Fernanda, ainda é cedo para entender a extensão da saída do país, que representa 3,3% da economia global. “O fato é que o Euro tende a ser afetado e isso causa aversão a risco. Os investidores começam mudar o destino dos recursos”, explica. “Nesse contexto, os emergentes acabam prejudicados mesmo sem ter nada a ver com a história. O Brasil está inserido nisso”, diz.
Ainda que o Reino Unido não seja um parceiro comercial de destaque do Brasil, nós devemos sentir os efeitos macroeconômicos do Brexit. Para se ter uma ideia, no ano passado o país exportou cerca de US$ 3 bilhões para o mercado britânico, quase 5% a mais que no ano anterior. A maior parte das exportações brasileiras foi de ouro em formas sem faturadas (26%), seguido de silício (5,5%) e soja (5,25%).
“Alguns setores, como os produtores de soja, podem até ser beneficiados pela mudança por conta da migração de parceiros comerciais. Mas o fato é que as exceções positivas serão poucas perto da turbulência geral”, diz Fernanda.
Um resumo dos principais acontecimentos de cada dia que podem influenciar na taxa de câmbio, tudo isso em menos de 1 minuto.
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