Por
A saúde financeira das contas externas brasileiras é medida pelo balanço de pagamentos e divulgado todos os meses pelo Banco Central; é através do balanço de pagamentos que podemos avaliar a capacidade que o País tem de fazer comércio (transações correntes), transferir capital (operações de capital) e investir com o resto do mundo (operações financeiras).
O Banco Central tem divulgado os dados do balanço de pagamentos com certa defasagem por conta da greve ocorrida ao longo do primeiro semestre. Portanto, a última informação que temos é do mês de julho, quando a conta corrente registrou déficit de US$ 4,1 bilhões frente ao déficit de US$ 1,2 bilhão registrado em julho de 2021. Quando olhamos os dados acumulados em 12 meses, o déficit foi de US$ 36,6 bilhões (2,08% do PIB) frente ao valor de US$ 33,6 bilhões (1,92% do PIB) do mês anterior, e US$ 20,9 bilhões (1,37% do PIB) em julho de 2021. Ou seja, a trajetória de redução do déficit observada desde novembro de 2021 foi revertida a partir de março de 2022 (veja o gráfico 1).
Já a conta capital e financeira tem mostrado relativa recuperação. Embora os níveis pré-pandemia ainda não tenham sido plenamente atingidos, os ingressos de investimentos diretos no País (IDP) estão em níveis satisfatórios e crescentes, ou seja, financiando parte do déficit da conta corrente (veja o gráfico 2).
No acumulado em 12 meses, até julho, o saldo atingiu US$ 65,6 bilhões (3,73% do PIB), ante aos US$ 44,9 bilhões (2,95% do PIB) registrados no mesmo período do ano anterior. A princípio, a trajetória de aumento da taxa de juros aqui no Brasil (a taxa Selic) poderia contribuir para a recuperação da conta financeira, via entrada de fluxo. No entanto, o recente aumento na taxa de juros norte-americana gera incerteza sobre o balanço de risco dos investidores, que acabam optando por ativos mais seguros e com rentabilidades crescentes. Dessa forma, o fluxo de investimentos para o Brasil continua bastante errático e pouco consistente, contribuindo para que nossa taxa de câmbio permaneça em nível elevado (veja o gráfico 3).
A balança comercial, por sua vez, faz parte da nossa conta corrente e mede a diferença de valor entre as mercadorias e os serviços importados e exportados durante um determinado período. Um número positivo indica que mais bens e serviços foram exportados do que importados e o contrário também é verdadeiro. Assim, quando a nossa balança comercial é positiva, pode ser lida como fator positivo para nossa moeda (entrada de fluxo), enquanto que uma leitura oposta pode ser tomada como negativa para o real.
Em setembro, nossa balança comercial registou superávit de US$ 4,0bilhões, resultado das exportações de US$ 29 bilhões e importações de US$ 25bilhões. Esse resultado, que foi divulgado no último dia 03/10, se manteve no nível do mês anterior e nominalmente no mesmo mês do ano passado, quando o superávit da balança foi de US$ 4,4 bilhões. Porém, quando olhamos os dados acumulados no ano – entre janeiro e setembro – embora o saldo seja positivo, houve queda de US$ 8,5 bilhões (15%) em relação ao mesmo período do ano passado, resultado de um aumento de mais 30% das nossas importações, enquanto as exportações cresceram 19% nessa mesma base de comparação (veja o gráfico 4). O crescimento mais robusto das importações pode ser explicado pela retomada geral após pandemia e aumento nos preços das commodities (sobretudo petróleo) ao longo do ano (veja gráficos 5).
Olhando para frente, o que devemos esperar?
O Banco Central revisou recentemente o superávit da balança comercial para US$ 42 bilhões em2022, o que representaria uma queda de mais de 25% em relação ao superávit alcançado no ano passado (US$ 56 bilhões). De acordo com o BC, essa revisão reflete uma estimativa na queda das exportações, que passaram de US$ 342 bilhões (na projeção anterior) para US$ 331 bilhões, e aumento das importações, que avançaram de US$ 257 bilhões para US$ 289 bilhões na mesma comparação. A explicação para essa queda no saldo, também de acordo com o Banco Central, tem relação com o forte aumento que os preços das importações tiveram até meados desse ano, principalmente, os preços de combustíveis e bens intermediários. Embora tenha ocorrido uma acomodação nesses preços entre julho e agosto, eles continuam em patamar alto, sobretudo os preços de combustíveis e bens intermediários. Nossa estimativa é que a balança tenha um desempenho um pouco melhor do que o projetado pelo Banco Central.
Em linhas gerais, acreditamos que o quadro para as contas externas brasileiras ainda é positivo. O setor externo continua apresentando uma dinâmica favorável, mesmo diante das incertezas do cenário global, com resultado positivo da balança comercial e conta corrente ainda sendo financiada pelo ingresso de investimento estrangeiro. Claro que, possivelmente, teremos meses melhores e outros nem tantos, muito por conta do cenário externo ainda conturbado, com a guerra do Leste Europeu e aumento de juros das economias centrais. Mas, por ora, podemos avaliar que nossas contas externas estão parcialmente blindadas desses efeitos negativos vindos do exterior.
Um resumo dos principais acontecimentos de cada dia que podem influenciar na taxa de câmbio, tudo isso em menos de 1 minuto.
ouça agora