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“O Brasil não é para principiantes”, já dizia nosso amado Tom Jobim. E não é mesmo! Todo dia uma emoção diferente e, na semana passada, tivemos mais um capítulo dessa emocionante narrativa que é ser brasileiro. Na calada na noite..., brincadeira, só quis fazer um suspense mesmo, mas foi na calada do fechamento dos mercados o governo brasileiro decidiu soltar um comunicado alterando algumas alíquotas de IOF para determinadas transações e isso gerou tanta histeria coletiva que, na manhã seguinte, o próprio governo já havia voltado atrás em uma das medidas. Assim, não sabemos o que foi pior, o aumento do IOF ou o arrependimento em menos de 24 horas após o anúncio. Teríamos aí um sinal de crise institucional? Podemos falar sobre isso em uma outra oportunidade. Agora é hora de entender quais foram as principais mudanças feitas nesse tão temido imposto.
Antes de mais nada, vamos aprender qual o significado dessas letrinhas, para que servem, de onde vieram e para onde vão! O IOF - Imposto sobre Operações Financeiras - é um imposto federal brasileiro que incide sobre operações de crédito, câmbio, seguros e operações relativas a títulos e valores mobiliários. Ele tem duas funções principais: arrecadatória, gerando receita para o governo, e regulatória, sendo usado como instrumento de política econômica. O governo pode ajustar o IOF para estimular ou frear o consumo, controlar a inflação ou incentivar investimentos e exportações. Além disso, o IOF é regulamentado pelo governo federal e pode ser alterado a qualquer momento, tanto em termos de alíquotas, quanto de regras de incidência, sem necessidade de aprovação em Congresso – que foi exatamente o que aconteceu na semana passada, para o desespero de muita gente! Vale lembrar que várias mudanças já foram feitas no IOF ao longo do tempo, veja no quadro abaixo:
Voltando aos dias atuais, as recentes alterações no IOF refletem a tentativa do governo de reforçar a arrecadação e garantir o cumprimento das metas fiscais de 2025, como mencionamos acima. Contudo algumas medidas não foram bem recebidas (e o governo reagiu imediatamente), a outras vamos ter que nos ajustar. É o famoso “aceita que dói menos”. O aumento da alíquota sobre operações de crédito corporativo, por exemplo, que subiu para 3,95%, encarece o custo do dinheiro, afetando especialmente pequenas e médias empresas e podendo frear investimentos e atividade econômica no curto prazo. Além disso, a elevação do IOF sobre transações internacionais com cartões para 3,5%, encarece viagens e compras no exterior, desestimulando o consumo externo. A medida mais controversa, no entanto, foi a tentativa de taxar em 3,5% as transferências para investimentos no exterior, o que gerou forte reação negativa do mercado, levando o governo a recuar rapidamente. Portanto as transferências de recursos para o exterior sem finalidade específica (remessas de disponibilidade na tabela) passaram a ser tributadas com a alíquota de 3,5% de IOF. Já as remessas com objetivo de investimento mantêm a alíquota anterior de 1,1%.
Vale destacar que continuam isentas ou com alíquota zero diversas outras operações, como é o caso do IOF câmbio. Seguem não tributadas, por exemplo, operações interbancárias, de importação e exportação, ingresso e retorno de recursos de investidor estrangeiro e remessa de dividendos e juros sobre capital próprio para investidores estrangeiros.
Listamos, na tabela abaixo, as principais alterações para operações de câmbio, crédito e seguro:
Embora essas medidas ajudem a amenizar a conta fiscal no curto prazo, elas podem gerar efeitos colaterais relevantes, como o encarecimento do crédito, por exemplo. Isso levaria a uma redução no consumo e, consequentemente a uma revisão para baixo nas projeções de crescimento econômico – que estão indo muito bem, diga-se de passagem! Lembrando que essas alíquotas podem ser alteradas a qualquer momento novamente, sem aviso prévio. E cabe a nós continuar seguindo os capítulos, não tão inéditos, da trajetória de um imposto chamado IOF.
Um resumo dos principais acontecimentos de cada dia que podem influenciar na taxa de câmbio, tudo isso em menos de 1 minuto.
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