Relátórios de economia
23/10/2025

Entre brisas de otimismo e nuvens de incertezas

Por

Cristiane Quartaroli

Em tempos de incerteza, a confiança costuma oscilar como o vento e muda de direção ao menor sinal de instabilidade. O cenário global atual é um retrato disso; um misto de expectativas frustradas, riscos geopolíticos e políticas econômicas imprevisíveis. Nos Estados Unidos, por exemplo, a política comercial e o debate sobre o rumo dos juros criam ondas de volatilidade que se espalham pelo resto do mundo. Na Europa, a expectativa de baixo crescimento convive com dúvidas sobre o futuro de países em conflito eterno. E, no Brasil, incertezas fiscais e eleitorais completam um quadro que desafia até os analistas mais experientes. Nesse contexto, os indicadores de confiança parecem perder o compasso: ora refletem esperança em uma melhora adiante, ora traduzem o desconforto com a falta de visibilidade. Mais do que medir otimismo ou pessimismo, hoje eles capturam o humor volátil de um mundo que tenta entender para onde está indo.

 

Falando especificamente do Brasil, não podemos dizer que estamos em um cenário completamente catastrófico, longe disso, mas, também, não vemos um mar de rosas pela frente. Nem 8, nem 80,diriam os mais sábios. Ainda há muitas questões a serem endereçadas (alô, fiscal!) e a proximidade do calendário eleitoral adiciona um ingrediente extra de tensão e expectativa. Os indicadores de confiança mostram um ambiente um tanto quanto peculiar e incerto. Enquanto a confiança do consumidor mostra uma melhora expressiva nos dados mais recentes, a confiança do empresariado ainda está a desejar (ver gráfico). A desaceleração recente da inflação teve papel relevante na melhora da percepção por parte das famílias, que voltaram a se sentirem um pouco mais seguras para consumir. Do lado do empresariado, contudo, apesar do avanço — ainda que modesto — de algumas reformas estruturais, as incertezas como cenário fiscal de cumprimento ou não da meta de superávit, além do juros em patamar recorde, sustentam um cenário menos otimista.

Contudo vale destacar que de acordo com pesquisa da Ipsos, o Brasil figura hoje entre os dez países com maior nível de confiança do consumidor entre os 30 países analisados, mantendo posição de destaque e desempenho acima da média global (ver gráfico). Em setembro deste ano, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) brasileiro, calculado pela instituição, registrou leve alta, avançando para 51,7 pontos, e mantendo o país próximo da linha de neutralidade (50). De acordo com a Ipsos, esse resultado reflete um mercado de trabalho ainda aquecido, com taxa desemprego baixa e maior sensação de segurança financeira (inflação ajudando aqui). Apesar disso, a confiança segue marcada pela cautela, sem mudança relevante na percepção geral sobre a economia, com o índice global permanecendo estável em 48 pontos – praticamente no mesmo patamar observado em agosto do ano passado, quando fizemos um relatório sobre esses indicadores.

Além disso, vale ressaltar que nas principais economias avançadas, o cenário ainda é de desconfiança. Tanto na Zona do Euro quanto nos Estados Unidos, os índices de confiança seguem abaixo dos níveis observados antes da pandemia (ver gráfico). O elevado custo do crédito, mesmo com o início do ciclo de cortes de juros, ainda limita o apetite de consumo e investimento. Espera-se que a política monetária mais acomodatícia — especialmente após os recentes cortes de juros pelo Federal Reserve e Banco Central Europeu — contribua para uma retomada mais consistente dos indicadores de confiança nos próximos meses.

Para além do termômetro do humor econômico, a confiança exerce influência sobre variáveis-chave, como o risco-país e a taxa de câmbio. Historicamente, ambos se movem em direções opostas: quando a confiança aumenta, o risco diminui — e vice-versa. No caso brasileiro, porém, esse padrão tem se mostrado menos previsível. Apesar da melhora dos indicadores de confiança, o risco-país permanece praticamente no mesmo patamar há um ano (ver gráfico), refletindo a preocupação com o quadro fiscal e a incerteza sobre o ambiente político – leia-se aproximação da corrida eleitoral de 2026. Essa divergência mostra que, embora a confiança seja um sinal importante, ela não é suficiente para ancorar expectativas em meio a tantas dúvidas. Ainda é cedo para afirmar se o otimismo recente será duradouro ou se cederá diante dos desafios fiscais e eleitorais. Afinal, confiança é essencial — mas confiança demais, em momentos delicados, pode levar a decisões apressadas.

Conclusão: Por ora, o que se observa é um país em compasso de espera: cauteloso, mas não paralisado. O que virá adiante dependerá da forma como as políticas fiscal e monetária serão conduzidas, e de como consumidores e empresários interpretarão esses sinais. Em tempos de incerteza, mais do que nunca, medir a confiança é também medir o grau de paciência da economia.

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