blog
1/6/23

Entre sinistros e câmbio: o que hedge cambial e seguros têm em comum

Por

Michele Loureiro

Todos os anos são pagos bilhões de reais em sinistros. Seja para proteção veicular ,seguro de vida ou outras apólices, a proteção faz parte da cultura de boa parte dos brasileiros. Para se ter uma ideia, dados da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais (CNSEG) apontam que 9 em cada 10 veículos novos saem das concessionárias com seguros contratados.

Assim como a proteção amplamente conhecida pela população, o hedge cambial é a ferramenta utilizada para garantir tranquilidade para empresas e pessoas físicas que realizam operações em moedas estrangeiras - e vem crescendo nos últimos anos.

Mas, afinal, o que os seguros e o hedge cambial têm em comum? Assim como os donos de carros querem garantir a proteção do seu patrimônio, as empresas que buscam blindar seus valores contra as oscilações cambiais contratam essa ferramenta.

Funciona assim: o hedge cambial faz uma trava da moeda e as companhias que realizam transações fora do Brasil têm previsibilidade, independentemente da oscilação do dólar ou da moeda em questão. Dessa forma, é possível mensurar os custos e, em caso de oscilações, a instituição financeira responsável pela transação arca com a diferença da moeda no período contratado – não importa o tamanho da alta ou da queda.

Apesar da semelhança entre as ferramentas, há uma diferença pouco conhecida: o custo. O valor do hedge cambial é proporcionalmente inferior aos gastos com seguros. As duas ferramentas levam algumas variáveis em conta na hora de formar o preço, mas segundo Welber Barral, estrategista de Comércio Exterior do Ouribank, o custo do hedge cambial é muito menor do que os empresários acreditam.

“O hedge cambial tem fama de ser caro no Brasil. Isso já foi verdade no passado, pois o hedge é calculado pelo diferencial de taxa de juros entre Brasil e amoeda estrangeira”, afirma.

Barral exemplifica: em uma operação de US$ 100 mil com garantia de estabilidade e proteção da moeda, o empresário exportador ou importador paga de US$ 2 mil a US$ 3 mil pelo hedge cambial, montante que pode ser parcelado.

Com essa contratação do hedge, o empresário ou a pessoa física que precisa fazer uma transação internacional tem o câmbio fechado garantido no período escolhido, qualquer que seja o valor do dólar, R$ 4 ou R$ 8 reais. “Isso é como se fosse um seguro para o importador e o exportador. É uma garantia que seu montante planejado estará intacto”, diz Barral.

O estrategista de Comércio Exterior segue comparando a ferramenta cambial com o seguro veicular. “Se você faz o seguro de um carro importado, o custo médio é de cerca de 10% do valor do veículo por ano. Um carro de US$ 100 mil tem um seguro de US$ 10 mil. E isso ninguém questiona na hora de fechar, já é cultural contratar essa proteção”, diz Barral.

Além disso, Barral pondera que o prejuízo da ausência da proteção é muito maior no caso do hedge. Seguindo a analogia: na eventualidade de seu carro ser roubado, por exemplo, você paga a franquia para a seguradora - um valor muito menor do que o montante total - e consegue receber o dinheiro correspondente ao veículo. “Já quem não contrata o hedge precisa ficar com todo prejuízo da oscilação, além de lidar com a incerteza”, diz.

‍Hedge pode ser diferença entre lucro e prejuízo

Para o executivo, a questão da contratação do hedge cambial precisa ser mais difundida nas companhias, especialmente, nas empresas de pequeno e médio portes que realizam operações internacionais.

“É impossível controlar a oscilação do câmbio. São inúmeros fatores envolvidos, como cenário internacional, dívida externa, entrada e saída de capital, questões políticas internas. Em uma semana, muita coisa muda e é fundamental contar com o mínimo de previsibilidade, como a que o hedge cambial oferece. Asem presas precisam saber disso”, afirma o estrategista.

Barral diz que mesmo em momentos de baixa da moeda, quando pode haver argumentos deque o hedge não é interessante, é importante contar com a ferramenta. Afinal, o cenário muda depressa. “A especulação da moeda é algo para fundos de hedge e investidores especializados, empresários devem focar no negócio da empresa, que é comprar e vender produtos”, diz.

Ele finaliza com um exemplo: uma empresa que vende e exporta sapatos fecha um contrato fora do Brasil para enviar a mercadoria e receber o pagamento em 180dias. Provavelmente, essa companhia vai receber menos reais em relação aos dólares que vai vender, a depender da situação do mercado financeiro. “Essas empresas vivem uma tensão diária. Mais do que nunca vale a pena contratar hedge cambial e ter previsibilidade no fluxo de caixa. Isso pode ser a diferença entre lucro e prejuízo”, afirma.

ouça nosso podcast!

Economia do dia a dia

Um resumo dos principais acontecimentos de cada dia que podem influenciar na taxa de câmbio, tudo isso em menos de 1 minuto.

ouça agora