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29/9/22

Eleições 2022: Primeiro Turno

Por

Michele Loureiro

Faltando poucos dias para a eleição, os brasileiros vivem a expectativa pela escolha dos novos governantes do país. Para falar sobre o cenário político eleitoral e os impactos na economia, o Ouribank realizou um evento e montou alguns cenários possíveis.

O encontro contou com a presença de Fernanda Consorte, e conomista-chefe do Ouribank, Welber Barral, consultor de comércio exterior, e Rogério Schmitt, cientista político da Empower Consultoria.

O primeiro tópico debatido foi sobre o clima da campanha eleitoral, considerada ‘monótona’ pelos participantes.

“Acredito que essa corrida foi um pouco mais morna do que o esperado. Achei que teríamos momentos mais tensos nos últimos 30 dias. O mercado financeiro e os ativos brasileiros sentiram mais essa movimentação e tiveram forte volatilidade, sobretudo no cenário de câmbio. Mas isso também pode ser devido ao cenário exterior que não deu trégua”, diz Fernanda.

Para Rogério, o clima de "água com açúcar" é resultado de uma estratégia da equipe de Luiz Inácio Lula da Silva, que preferiu não partir para o confronto direto com o time de Jair Bolsonaro, apesar das provocações, por já estar em uma posição mais vantajosa nas pesquisas.

“Isso ficou evidente com a ausência de Lula no debate do SBT, por exemplo. Veremos como se dará o último embate direto entre os candidatos no debate realizado pela Globo na quinta-feira que antecede a votação”, diz.

O cientista político explica que a sensação de monotonia da campanha presidencial também pode ter a ver com a ausência de um grande acontecimento negativo, como houve nas últimas duas ocasiões. “Em 2014 tivemos a morte de Eduardo Campos e a briga de Aécio e Marina para ir ao segundo turno com Dilma. Já em 2018 tivemos a facada em Bolsonaro”, relembra.

Os números da campanha

Rogério fez uma apresentação sobre o andamento da campanha e afirmou que o ex-presidente Lula tem flutuado pouco e se mantido no mesmo patamar de intenção de votos desde janeiro. Enquanto isso, Bolsonaro segue sem ameaçar o favoritismo ao estar em nível parecido  desde abril, quando Sérgio Moro deixou a disputa presidencial.

“De lá pra cá observamos apenas um crescimento vegetativo de Bolsonaro, mesmo com a melhoria no quadro econômico e a aprovação de medidas populistas. Enquanto isso, nenhum dos demais candidatos da chamada terceira via conseguiu sequer atingir o patamar de dois dígitos”, diz o cientista político.

Para ele, as pesquisas de avaliação de governo também entram na conta para tentar fazer previsões sobre os resultados das eleições. Por isso, o cientista mapeou cerca de 100 pesquisas de avaliação do governo, de janeiro a setembro, e fez uma média dos resultados.

Em janeiro, o governo atual era considerado ótimo ou bom por 23% dos respondentes e em setembro o número chegou a 33%. Na outra ponta, 53% dos respondentes avaliaram o governo Bolsonaro como ruim e péssimo, patamar que caiu para 44% em setembro.

“Mesmo com as mudanças, é possível notar uma folga considerável entre aqueles que avaliam de forma positiva e negativa, que não estariam dispostos a votar no atual presidente”, diz.

Olhando as pesquisas de intenção de voto espontâneo, onde o instituto pergunta em que a pessoa pretende votar mas não menciona os nomes dos candidatos, Bolsonaro aparecia como opção para 21% das pessoas em janeiro e Lula com 33%. Em setembro, os números foram de 31% e 39%, respectivamente, fazendo uma média das pesquisas de todos os institutos.

“Se a gente somar 39 com 31, temos 70% do eleitorado já decidido a priori, sem que você sequer precise dizer o nome do candidato. É um cenário de polarização. A taxa de indecisos está pouco acima de15%, e os outros candidatos somados sempre ficaram abaixo dos dois dígitos”, explica Rogério.

Na pesquisa estimulada, quando o instituto menciona os nomes dos candidatos, Bolsonaro passou de 24% para 34% entre janeiro e setembro. Enquanto isso, Lula ficou estável e foi de 43,2% para 43,9%no período. “Mesmo assim, o candidato Bolsonaro nunca chegou a ameaçar o favoritismo de Lula”, diz.

Para o cientista, o quadro é previsível e a grande incerteza da eleição é se haverá ou não o segundo turno entre Lula e Bolsonaro. “Muitas variáveis podem interferir neste cenário, como a taxa de abstenção, que geralmente é mais alta entre os mais pobres, que votam no Lula, e das pessoas acima de 70 anos, que votam mais em Bolsonaro”.

Segundo turno à vista?

Segundo Rogério, os números mostram que uma decisão em primeiro turno é uma possibilidade crescente, mas não uma certeza. “Lembrando que para isso não basta ter mais votos, é preciso ter mais de 50%. Apenas Fernando Henrique Cardoso ganhou no primeiro turno”.

Ele diz que é difícil cravar o cenário, mas acredita que, em caso de segundo turno, Lula manteria amplo favoritismo. “Como vimos, no Brasil tem mais eleitores com visão negativa do que positiva do governo atual e isso é um fator poderoso na predição das intenções de votos. Por enquanto não vejo sinais de que poderia haver uma reversão”, afirma.

Olhando somente as pesquisas de setembro, é possível notar que na reta final Lula cresceu e passou de 43,3% na primeira semana do mês para 45,2% na última, levando em consideração a média das pesquisas.

Enquanto isso, no mesmo período, Bolsonaro caiu de 34,4% para 34,1%. “Pode ser que esteja havendo um movimento de troca devotos para o presidente Lula, mas as diferenças estão nos limites da margem de erro. Por isso, é quase cara ou coroa afirmar se vai haver segundo turno ou não”, diz Rogério.

Mais um indicador é que quando comparamos o desempenho do candidato Lula com os demais candidatos somados, com base nas pesquisas de setembro, observamos que Lula passou de 43,3% das intenções na primeira semana para 45,2% na última. Enquanto isso,  os demais saíram de 49,1% para 46,7%. “Mesmo neste cenário de alta de votos em Lula ainda haveria o segundo turno”.

Por isso, segundo o cientista político, a pergunta mais importante da eleição não é se haverá ou não segundo turno, mas se tem alguma chance do Lula sofrer uma derrota.

“Baseado nos diagnósticos da opinião pública eu acho pouco provável que haja uma virada. Acredito que o candidato de oposição têm mais chance de vencer, com base nas avaliações, nem entrando no mérito dos temas que estão sendo debatidos”, afirma.

Como fica a economia do Brasil?

Mesmo que a eleição ainda não esteja definida, os participantes do encontro arriscaram algumas previsões. Segundo Barral, o mercado vem precificando o que seria um novo governo de esquerda no Brasil e não há uma preocupação extremada com medidas para o ano que vem. “Já se sabe que será um ano desafiador pelo cenário externo e a eleição não é vista como mais um agravante”, diz.

Rogério explica que essa análise é justificada porque pela primeira vez temos disputa de um presidente com um ex-presidente. "Já são figuras conhecidas pelos agentes de mercado e é possível saber, em linhas gerais, os tipos de governos que seriam feitos”, afirma.

O consenso entre os participantes é que haveria mais mudanças na economia caso Lula fosse eleito. “A começar pelo ministério da Economia, que seria desmembrado e voltaria a ser Ministério da Fazenda e Ministério do Planejamento. No caso de Bolsonaro ganhar, Paulo Guedes continuaria sendo o nome forte”, diz o cientista político.

Fernanda ressalta que, além da importância de escolher o nome do próximo presidente, as eleições de domingo serão responsáveis por renovar o Congresso e atualizar um terço do Senado.

“É impossível dizer qual seria o melhor presidente para a economia do Brasil porque isso também depende do Congresso e do Senado. Vivemos numa democracia e, independente da intenção do governo, é necessário haver uma conversa e uma coalizão para as coisas andarem”, finaliza.

Gostou? Você pode acompanhar o bate-papo na íntegra, e outros conteúdos sobre economia e política, pelo canal do Ouribank no Youtube. Basta acessar esse link.

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