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3/3/22

Depois do Carnaval: o que esperar para o comércio exterior em 2022?

Por

Michele Loureiro

Quando o confete e a serpentina forem varridos no dia 2 de março já teremos contabilizado 41 dias úteis em 2022. Mesmo com uma comemoração atípica por conta da pandemia, a festa de Carnaval marca a tradição do começo do ano - ainda que uma parte da Sapucaí já tenha sido percorrida.

Apesar dos sacerdotes da produtividade não concordarem com a cultura enraizada, é fato que muitas atividades só deslancham depois do fim das marchinhas. É aquela sensação de que as desculpas acabaram e é hora de colocar a mão na massa.

Por isso, o a gente preparou uma lista de assuntos que devem permear a agenda de comércio exterior nesse ano e te ajudar a engrenar depois do Carnaval. Confira a seguir:

1. Colocando o bloco na rua das previsões

Seguindo o ritmo animado das festas de Carnaval, as projeções para a balança comercial aparecem em clima de otimismo. A estimativa do Ministério da Economia é que a diferença entre exportações e importações resulte em superávit de US$ 79,4 bilhões, valor 30,1% maior que o recorde de US$ 61 bilhões registrado no ano passado.  

O boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo Banco Central, traz previsões de analistas econômicos menos entusiasmados, que projetam superávit comercial de US$ 60 bilhões para esse ano.

Para Weber Barral, estrategista de Comércio Exterior do Ouribank, o bom desempenho esperado vem do grande volume de exportação de commodities, que segue como abre alas brasileiro.

“As importações também devem crescer, ainda que em ritmo mais lento. Isso porque ainda temos o compasso de espera da retomada da economia brasileira e os efeitos de consumo menor por conta da pandemia”, diz.

2. Samba, axé, frevo e câmbio

Assim como os ritmos variados que animam o Carnaval, o câmbio também é imprevisível e promete fortes emoções. “A única certeza em relação ao câmbio é que ele vai continuar volátil”, diz Barral.

Fatores internacionais e questões internas, como a espera pelo aquecimento da economia e as questões políticas em ano eleitoral, colaboram para que as cotações imprevisíveis continuem na avenida.

Barral diz que o hedge cambial continua sendo um importante integrante para quem não quer ficar para trás da linha de chegada dos desfiles em 2022. “Nesse contexto de incertezas, ter um artifício que possibilita segurança é fundamental e isso pode ser a diferença entre prejuízo e lucro”, avalia.

Ele defende que a contratação do hedge é importante tanto para quem exporta quanto para quem

importa. Como a tendência é de queda no câmbio, os exportadores podem se beneficiar de uma trava neste momento e garantir um patamar mais alto.

No caso das empresas importadoras, o interesse é mitigar essa volatilidade. “A questão cambial não está no foco e nem deve ser uma preocupação dos empresários. Com o hedge cambial, há uma garantia, uma previsibilidade valiosa nesse cenário atual”, diz Barral.

3. Uma eterna quarta-feira de cinzas

A notícia que vem para jogar um balde de água fria nos foliões é a questão entre Ucrânia e Rússia. Pode parecer que os eventos do Leste Europeu não impactam em nada a nossa festa, mas isso não é verdade.

É necessário acompanhar os próximos capítulos desse imbróglio, pois a continuidade das crises pode acarretar novas sanções econômicas contra a Rússia. Caso isso ocorra, os fertilizantes usados no Brasil, em grande parte importados do território russo, podem ser impactados.

Além do atraso e aumento de custos, o setor de agronegócios, que costuma ser o campeão dos desfiles brasileiros, pode ter seu brilho impactado.

Ainda que o país responda apenas por 0,6% das exportações brasileiras, novas sanções também podem atrapalhar as remessas de carne do Brasil para a Rússia.

“A questão no Leste Europeu pode ter um efeito de instabilidade regional e de aumento de preço de commodities de alimentos, já que aquela região é uma grande produtora de trigo. Isso poderia elevar o preço de trigo e de grãos no mercado internacional, por exemplo”, explica Barral.

Enquanto a situação não avança por lá, segue o clima de quarta-feira de cinzas em torno dessa questão.

4. Acordos internacionais para o grupo de acesso

Segundo o estrategista, não há grandes expectativas para novos acordos internacionais para esse ano com a continuidade do governo Bolsonaro.

“As negociações devem seguir, mas não se prevê nenhuma grande evolução sobre o acordo com a União Europeia, nem de outros acordos, como Canadá e Coreia do Sul, que estão negociando com o Mercosul”, afirma Barral.

Ao que tudo indica, o clima de festa do Carnaval não segue depois da quarta-feira de cinzas e há bastante trabalho pela frente para recuperar o tempo de folia.

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