Por
Michele Loureiro
A gestão ambiental do Brasil está em pauta no cenário global. O País é a segunda maior área de floresta do mundo, atrás apenas da Rússia, e o recente aumento de queimadas preocupa ambientalistas e também investidores e exportadores.
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), as queimadas na região do Pantanal brasileiro aumentaram 210% entre janeiro e setembro de 2020, quando comparadas ao mesmo período do ano de 2019. Apenas este ano, foram registrados cerca de 15 mil focos de incêndio no local.
O ambiente político instável, atrelado ao mau momento da economia por conta da pandemia, ganha ainda mais um agravante com os efeitos reputacionais gerados pela demora em implantar ações para cessar o fogo.
As recentes declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre a culpa de indígenas, imprensa e ONGs por queimadas soaram mal no mercado financeiro e revelaram uma dificuldade do governo de administrara questão.
Segundo Welber Barral, estrategista de Comércio Exterior do Ouribank, enquanto o impasse não se resolve, há um grande impacto de reputação para o Brasil. “Somos reconhecidos exportadores de alimentos e commodities minerais, e começa a ficar arranhada a imagem vantajoso destino de investimentos” , diz.
Cada vez mais as empresas apostam na sigla ESG (Environmental, Social and Governance), as melhores práticas ambientais, sociais e de governança. A tendência é que mais companhias e investidores queiram estar próximos dos ativos “lastreados” nessa sigla, porque serão sinônimos de negócios sólidos e sustentáveis do ponto de vista ambiental, social e econômico.
“Isso pode até mesmo impactar as exportações brasileiras, dependendo do destino e do setor de atuação. Alguns importadores podem não querer mais se associar à imagem do Brasil em razão de políticas de sustentabilidade”, diz Barral.
A iniciativa privada já começa a observar algumas retaliações. A rede Costco, do Reino Unido, já anunciou a redução de produtos de origem brasileira por conta da má gestão ambiental. O temor é que essas iniciativas se alastrem para outros governos e que sejam usadas como diretrizes no médio prazo. “Podemos viver uma onda de protecionismo motivada por questões ambientais”, avalia Barral.
Outro ponto de alerta é a percepção dos investidores estrangeiros. Os saques líquidos de 2020 já somam R$ 85,3bilhões até agosto, bem mais do que o realizado em todo o ano de 2019, que fechou com saídas de R$ 44,5 bilhões.
A reputação delicada na gerência da crise ambiental pode ser mais um fator de saída de capital. “Além disso, os fundos de investimento, inclusive em razão de seus regulamentos e decisões de conselho, são obrigados a adotar medidas relacionadas à sustentabilidade e governança”, recorda Barral.
Além disso, os acordos comerciais também mudam de marcha. Afinal, os países em negociação dificilmente vão querer estreitar relações em um momento como o atual.
O agronegócio brasileiro, normalmente relacionado às queimadas, tenta se desvincular dessa imagem. Em recente campanha, a Sociedade Rural Brasileira (SRB) começou uma cruzada para mostrar os bens feitos do setor e ressalta dados como o crescimento de 300% da produção de grãos no Brasil entre 1997 e 2020, e um avanço bem menor da área plantada no mesmo período, de 60%.
A ideia é reforçar o aumento da produtividade do setor, além do maior uso de tecnologia nas fazendas e de uma contribuição para preservação.
A SRB pede que haja uma “visão mais holística” sobre os desafios recentes e ressalta um estudo da Embrapa Territorial, que indica que 84,1% das florestas da Amazônia permanecem intactas. Segundo o documento, somente 12,8% das áreas são destinadas as lavouras e pastagens.
Enquanto o agronegócio tenta se desvincular dos problemas ambientais, a reputação do Brasil segue em evidência e ainda promete vários próximos capítulos para os investidores e exportadores.
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