Por
Michele Loureiro
O feriado do Ano Novo chinês é considerado o evento com a maior migração humana anual do mundo. Para se ter uma ideia, a movimentação financeira na China nas semanas que antecedem o feriado chega a US$ 150 bilhões. Com a pandemia, deve haver redução de público este ano, mas a mudança do calendário lunar, celebrada no dia 12 de fevereiro, ainda atrai a atenção do mundo por suas dimensões.
A meta chinesa é vacinar 50 milhões de pessoas antes do feriado com o objetivo de garantir proteção nos deslocamentos. E os números superlativos não param por aí. A festa tradicional também celebra este ano um momento decisivo na China, país que deve ter forte recuperação econômica e que está cada vez mais perto de ultrapassar os Estados Unidos para se tornar a maior economia do mundo.
A previsão é que a economia chinesa avance 9% em 2021, enquanto os norte-americanos devem recuperar 4%. A segunda maior potência do mundo tem se recuperado gradativamente do baixo crescimento observado nos primeiros meses de 2020, quando foi impactada pela pandemia e registrou um tombo de 6,8%. Ainda assim, deve fechar o ano com um crescimento próximo a 2%, enquanto a maioria das principais economias do mundo continuam sofrendo as consequências da pandemia de Covid-19. Esse resultado do PIB chinês estaria bem abaixo do crescimento de 6,1% registrado em 2019, mas seria de qualquer forma um fechamento positivo em um ano totalmente atípico.
Para estar na ponta do crescimento, o governo chinês implementou uma série de medidas ao longo dos últimos meses, como aumento dos gastos fiscais, redução de impostos e cortes nas taxas de empréstimos para estimular a economia e garantir os empregos.
Segundo Welber Barral, estrategista de Comércio Exterior do Ouribank, depois de ser duramente criticada pela falta de transparência em relação ao coronavírus, a China contou com um importante fator para se recuperar: seus cidadãos.
“O cumprimento voluntário das medidas de isolamento nos países asiáticos ajudou a conter os números da pandemia e a amenizar os danos. A população ajudou a economia”, diz. Testes de detecção em larga escala e o acompanhamento dos casos de contato também ajudaram o país, e restringiram a epidemia comparativamente aos países ocidentais.
Além disso, a agressividade econômica do governo local colaborou para um desempenho positivo do gigante asiático. “Foram lançados grandes investimentos públicos de estímulo ao consumo e incentivos aos gigantescos projetos de infraestrutura”, explica Barral.
A estratégia chinesa surpreendeu alguns economistas, pois foi na contramão da lógica dos países ocidentais de apoiar a demanda. A China se concentrou nos investimentos e no consumo interno. “Foi uma estratégia acertada, mas que não é aplicável a qualquer país. Enquanto a maioria sofreu pela queda da demanda, a China incentivou investimentos públicos. O que só é possível pela situação fiscal, pelo volume de poupança e de reservas do país”, avalia Barral.
Segundo o estrategista, a recuperação acelerada da China pode ser interpretada de duas formas no Brasil: uma oportunidade de crescimento ou um aumento de dependência. O destino asiático já responde por 30% das nossas exportações e isso pode aumentar ainda mais, o que pode ser um problema.
Como a China está entre os destinos em rota de recuperação mais rápida, a tendência é que nossos produtos sejam demandados e a pauta de diversificar as exportações poderá ir para a gaveta mais uma vez. “Há duas décadas, vivemos esse dilema de diminuir a dependência e vemos as exportações para a China crescendo, para os Estados Unidos estáveis e para a América Latina caindo”, diz Barral. “É difícil romper esse ciclo”.
Mas por que isso é negativo? Porque a maior parte dos nossos produtos que vão para a China são commodities e o valor agregado é baixo. Já a América Latina, que deve perder ainda mais a relevância na nossa balança comercial este ano por conta da situação econômica da região, é o destino principal dos produtos manufaturados com maior valor agregado.
“Nossos vizinhos latino-americanos, que são nosso mercado natural para manufaturados, foram muito impactados e terão lenta recuperação. A balança comercial deve seguir positiva, mas o valor agregado dos produtos tende a ser prejudicado. O objetivo continua sendo diversificar os destinos para produtos manufaturados, mas a questão da pandemia torna essa tarefa ainda mais desafiadora”, afirma o estrategista.
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